sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Afinal, o que Brasília tem contra o Paraná?

Gleisi apoia projetos de concessão e arrendamentos contrário aos interesses da economia e dos paranaenses
  Não tem sido fácil a vida do governo do Paraná nas suas  relações com o governo Dilma. As posições estratégicas ocupa-das pelos três paranaenses no Ministério – Gleisi Hoffmann, na Casa Civil; Paulo Bernardo, no Planejamento e Gilberto Carvalho, ministro secretário geral da Presidência da República, deveriam ao menos provocar um retorno adequado aos dividendos que o povo paranaense, através do trabalho e pagamento de impostos, credita ao Brasil.
Embora o Paraná apresente um perfil econômico-financeiro melhor que o do Rio Grande do Sul, governado pelo PT, nosso Estado encontra sólidas e súbitas barreiras para obter empréstimos dependentes de aval de Brasília, por exemplo. “Somos o quinto estado do Brasil que mais contribui com arrecadação para a União, mas apenas o 23º em recebimento de verbas federais”, costuma lembrar o governador Beto Richa.
O mais recente exemplo do torpedeamento do interesse do Estado foi preparado nos gabinetes de Brasília, ou mais precisamente nos escritórios da empresa Estruturadora Brasileira de Projetos (EBP) tratando de licitações para o Porto de Paranaguá
Essa empresa teve a responsabilidade pelos estudos das concessões e dos arrendamentos dos terminais portuários do país. Não só isso, também atuou nos processos de concessão de estradas, portos e aeroportos. O senador Álvaro Dias requereu ao Ministério dos Transportes mais informações sobre a atuação da EBP, lembrando o fato dela “ter participado de reuniões na Casa Civil antes mesmo de autorizada a iniciar seus trabalhos para os arrendamentos nos portos” .
 Porto de Paranaguá
 A proposta da EBP para o porto paranaense foi abraçada pela Secretaria Especial dos Portos (SEP) e pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), que antes detonaram solenemente e sem explicações 16 projetos apresentados pela Administração dos Portos de Antonina e Paranaguá (Appa). O curioso é que os estudos são complexos em qualquer porto foram feitos em Brasília. embora se desconheça a existência na capital federal de algum cais, a não ser se assim forem considerados os trapiches dos lago Paraná.
As propostas da APPA são resultado de exigência da antiga lei dos portos (8.630), obrigando todos os portos brasileiros a realizar o “Plano de Desenvolvimento e Zoneamento do Porto Organizado – PDZPO”, mas o único que cumpriu foi Paranaguá, em agosto do ano passado (BI 1187).
Com mais de seis meses de duração, o trabalho foi realizado pela Fundação de Ensino e Engenharia de Santa Catarina (FEESC) e pelo Laboratório de Transportes e Logística (LabTrans), instituições ligadas à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), num plano de voo para duas décadas não só para o terminal portuário mas seu envolvimento com a cidade.
Otimista, o superintendente dos portos paranaenses, Luiz Henrique Dividino afirmou na época. “Esse Plano nos possibilitará realizar ações estabelecidas pelo Governo Beto Richa, viabilizar as parcerias público-privadas e buscar recursos para os projetos de expansão, junto ao governo federal”.
O otimismo de Dividino era justificável. O Plano de Zoneamento destacava a possibilidade de o porto diversificar e dobrar o volume de carga nos próximos 20 anos. Isso significa dizer que o porto, que atingiu um volume de 41 milhões de toneladas movimentadas em 2011, 50 milhões em 2012, poderia alcançar mais de 80 milhões nos próximos anos.
O Plano também desenha as novas áreas de expansão em Antonina, Imbocuí/Emboguaçu e em Pontal do Paraná, num total de 50 milhões de metros quadrados disponíveis para crescimento de área e retro área. Mesmo com esse crescimento previsto, o porto ainda conseguiria manter 80% de área preservada na baía.
 E a APPA convocou empresas privadas interessadas na renovação dos arrendamentos vencidos na área portuária (silos, armazéns), para apresentar projetos de expansão.
Trabalho perdido, porque numa atitude de desrespeito com os paranaenses, e as principais instituições representativas dos setores econômicos do Estado, a ministra Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, e encarregada de tratar os problemas dos portos brasileiros, tomou duas atitudes. A primeira foi convocar a Brasília o superintendente da APPA, Luiz Henrique Dividino, para comunicar que os projetos apresentados pela APPA estavam descartados. Isso ocorreu 24 horas antes de uma reunião, com a presença agendada da ministra, na sede da Federação das Indústrias do Paraná (FIEP), onde seria feita uma exposição sobre o destino do terminal paranaense, no último dia 27.
Sob a alegação de que o jatinho da FAB que a traria estava com problemas no trem da aterrisagem, como se a Aeronáutica não tivesse outros aviões, ela não apareceu. Em seu lugar vieram dois burocratas da Antaq e Sep.
Para preparar o ambiente, a ministra instrumentou o jornal Gazeta do Povo para dar a manchete: “Porto de Paranaguá terá investimento de R$ 2,6 bilhões” no mesmo dia da reunião na FIEP (27/09). Durante o encontro, porém, seus representantes anunciaram um investimento de R$ 1,6 bilhões, irritando a ministra.
Armou-se uma correria para se acrescentar mais R$ 1 bi, para coincidir com a informação de Gleisi ao jornal curitibano. A Secretaria de Portos da Presidência da República (SEP/PR), às pressas, divulgou a nota “bilionária”, acrescentando o bilhão faltante.
Coube ao secretário de Planejamento e Desenvolvimento Portuário da Secretaria de Portos (SEP), Rogério Menescal, apresentar o plano do governo federal para concessão de áreas do Porto de Paranaguá.
Nele, o governo federal transforma 17 áreas no Porto de Paranaguá em 10 novos terminais a serem licitados nas áreas de grãos, fertilizantes, granéis líquidos, celulose, carga geral e veículos. Paranaguá ganharia seis novos berços. Com pressa, como se fosse tirar a mãe da forca, a Antaq deu o prazo até o final do mês para que os usuários e interessados nas concessões do terminal paranaense apresentem suas sugestões à Antaq.
O modelo apresentado pelo governo federal preocupa principalmente as cooperativas do Estado. “É um modelo que privilegia as grandes empresas globais. É um nível de investimento que somente elas têm condições de fazer e isso pode ser fatal para o cooperativismo local”, afirmou o diretor empresarial da Appa, Lourenço Fregonese.
Além de unificar as áreas, o vencedor da licitação também será responsável pela construção dos novos berços e do acesso ao porto. “Não foram consideradas as especificidades das cooperativas e do Paraná. É preciso que isto seja revisto”, disse o presidente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), João Paulo Koslowski. As cinco áreas de granéis sólidos, por exemplo, foram condensadas em três arrendamentos, com quatro novos berços.
Nesses terminais há hoje áreas de cinco empresas – União Vopak, Coamo, Cargill, Centro-Sul, Bunge – cujos contratos de concessão venceram entre 2012 e este ano. Assim como as seis empresas citadas acima, o contrato da Cotriguaçu – entidade que reúne as cooperativas Copacol, C.Vale, Coopavel e Lar – também está vencido. Os documentos da Casa Civil indicam, porém, que essa área não entrou no novo plano, porque seria tecnicamente inviável, por não estar localizada exatamente na área do porto organizado de Paranaguá e não poder ser licitada junto com as outras.
 Porto de Paranaguá - O produtor paga a conta
Embutido na proposta do governo federal para as concessões no terminal de Paranaguá estará seguramente um reajuste considerável (cerca de 300%) das tarifas portuárias. A Secretaria Especial dos Portos está interessada em aumentar as receitas da administração portuária pública. A APPA é contra. Atualmente cada tonelada de soja embarcada, por exemplo, paga U$ 6,00 ao embarcador, dos quais U$ 2,58 são destinados à administração portuária. Se ocorrer esse reajuste, será repassado aos donos da mercadoria: os produtores rurais.
O risco da Coamo e a insegurança jurídica
 O terminal da Coamo, instalado desde 1990, ou seja há 23 anos, com recursos próprios da cooperativa no Porto de Paranaguá está em risco, apesar de sua eficiência na movimentação da produção agrícola destinada à exportação.
Seu terminal que movimenta carga própria e eventualmente de terceiros sempre é responsável pelo embarque de cerca de três milhões de toneladas.
Se não for dada continuidade ao arrendamento de sua área, onde estão diversas estruturas de recepção e movimentação de granéis, os produtores rurais e o sistema cooperativo brasileiro estarão seriamente comprometidos com os resultados econômicos do seu agronegócio.
Ocorre que esse complexo está instalado em duas áreas contíguas, consequentemente a ausência de uma prejudicará totalmente a operação da outra, e vice-versa.
Esse panorama foi simplesmente ignorado pela Secretaria Especial de Porto e pela Antaq.
Qualquer proposta de mudança nos investimentos e áreas de arrendamentos que eventualmente venham a ser feita estará infringindo a regulamentação da lei, numa declarada tentativa de desencadear um processo de insegurança juridica, preocupando operadores, usuários e principalmente inúmeros investidores interessados no Porto de Paranaguá.
 Papagaio come milho, Periquito leva a fama
 Faceiro como sabiá ao alvorecer, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) divulgou que a exportação de soja foi o destaque da balança comercial do país, rendendo US$ 1,9 bilhão em setembro. Foi uma tentativa de desviar a atenção da notícia ruim para o governo. De janeiro a setembro, o comércio exterior do País acumulou um déficit de US$ 1,6 bilhão, ante superávit de US$ 15,702 bilhões em igual período do ano passado. É o maior déficit no acumulado dos primeiros nove meses do ano desde 1998, quando foi deficitário em US$ 3,6 bilhões. O superávit de setembro é 15,9% menor que em setembro do ano passado.
O Ministério só esqueceu de informar que a maior parte desses dólares foi resultado da soja embarcada em Paranaguá. O patinho feio do sistema portuário brasileiro.
| Porto de Paranaguá
O Porto é nosso
Agricultura, indústria, comércio e serviços – 100% do Produto Interno paranaense estão unidos em defesa do Porto de Paranaguá. Em reuniões no dia 1º , em Paranaguá, com os operadores portuários, e dia 3, na sede da Ocepar, em Curitiba, o superintendente da APPA,
Luiz Henrique Dividino detalhou o que o governo federal tenta impor para a operação do terminal paranaense.
A SEP e a Antaq marcaram para dia 21, em Paranaguá, uma audiência pública para ouvir sugestões sobre o processo de concessões e arrendamento das áreas portuárias. O processo será encerrado dia 25, em Brasília.
Não seria necessário tais audiências depois que as Federações e Associações que representam todos os setores da economia decidiram apoiar os projetos apresentados pela APPA e recusados pela SEP/ANTAQ.
 A FAEP e o Porto
 Essa questão do Porto interessa a toda a sociedade  paranaense e principalmente aos 515 mil produtores rurais do  Paraná. No ano passado o terminal movimentou 45 milhões de
toneladas, das quais 70% de produtos agropecuários.
A infraestrutura e a logística são componentes fundamentais no chamado “Custo Brasil”, mas obras nessa área andam – quando andam - a passos de jabuti. A agilidade, competitividade e eficiência nas operações portuárias, rodoferroviárias, de armazenagem, etc, resultam em melhores preços pagos ao produtor.
Como organismo político de representação do setor rural, a FAEP vem atuando na multiplicação de informações de interesse do produtor, apoiando e patrocinando iniciativas que estimulem soluções para a economia paranaense e nacional.
E está atenta sobre movimentos inexplicáveis contra o nosso Estado, como é agora o caso do Porto de Paranaguá.
 Porto de Paranaguá
Álvaro: “A EBP é uma caixa preta”
A intensa atividade da empresa Estruturadora
Brasileira de Projetos (EBP), uma sociedade formada pelo BNDES, Banco do Brasil, Espírito Santo, Bradesco, Citibank, Itaú BBA, Santander, HSBC e Votorantim, na área dos projetos de concessões, chamou a atenção do senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
Em julho passado, o senador paranaense encaminhou ao ministro dos Transportes, César Borges, um requerimento com surpreendentes indagações sobre a EBP. Como de hábito,
em vez de abrir a “caixa preta”, como Álvaro classifica as operações da empresa, o Ministério preparará respostas evasivas para mantê-la fechada.
“A EBP tem sido a responsável pela formatação dos processos de concessão para a iniciativa privada de infraestrutura pública como estradas, portos e aeroportos. Trata-se, deste modo, de uma verdadeira caixa-preta as relações desta empresa com o governo”, lembra o senador em seu requerimento.
A empresa foi a responsável pelas concessões de três aeroportos - Guarulhos, Viracopos e Brasília e ficou com a responsabilidade pelos estudos das concessões no setor e dos arrendamentos de 95 terminais portuários, segundo o mesmo documento. “A EBP tem participado de reuniões na Casa Civil antes mesmo de autorizada a iniciar seus trabalhos para os arrendamentos nos portos”, relatou Álvaro.
Nas indagações ao ministro, o senador questiona o comportamento da empresa na área das concessões rodoviárias e dos maiores aeroportos do país.
“Tantos bilhões sendo discutidos por prazos que podem chegar até 40 anos, mas, pasmem, não houve, em nenhum caso, abertura de chamada ou concorrência pública  para a apresentação dos estudos. Formalmente, o governo não  tem relação contratual com a EBP. Dá apenas uma autorização,  por meio de portaria ministerial, para a elaboração de estudos técnicos”, se surpreendeu Álvaro. 

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